Design Artesanal vs. Industrial: Como a Produção Afeta os Objetos de uso
- Leo Castilho
- há 6 dias
- 4 min de leitura

Transformar o ambiente em que vivemos sempre foi uma característica muito singular do ser humano. É somente através do trabalho produtivo que somos capazes de configurar e materializar soluções para nossos problemas.
Essas soluções tomam geralmente a forma de um objeto ou serviço, o qual é vendido em massa para que, enfim, possamos usufruir de seus benefícios.
Nesse Estudo Acadêmico, vamos explorar um pouco mais afundo o conceito de objeto de uso estabelecido por Bernd Löbach, refletindo sobre como a evolução dos processos produtivos tem afetado nossa relação com o fazer design.
Do artesanato à produção em massa pós-moderna
A nossa relação com a concepção dos objetos de uso, por muito tempo foi algo mais pessoal, criávamos para resolver nossos problemas individuais, isso mediante um processo que certamente não era tão racional quanto o de hoje. Nesse período, que antecede o advento das revoluções industriais, podemos observar algumas peculiaridades no processo produtivo:
Um controle bem mais individual no processo de conformação;
Baixa produtividade e alta variação na forma final de cada objeto;
Custo elevado dos produtos e escassez de matéria-prima.
Todas essas questões, no entanto, eram superadas pelo fato de que o artesão, no seu processo de design, podia atender aos valores e expectativas do cliente de uma forma muito direta, construindo as ideias de soluções especificas de cada cliente.
Hoje, o designer tem muito menos poder decisório sobre esses valores, e mesmo que suas ideias possam ser produzidas em massa para o mundo todo, através dos produtos produzidos industrialmente, seu trabalho ficou sujeito aos fabricantes e seus maquinários, sendo o designer muitas vezes capaz de modificar pequenas coisas, quase sempre se limitado a alterações de natureza estética.
Objetos de uso artesanais e produtos de uso industriais
Ao observamos bem a natureza veremos que assim como nós, ela também age mediante um processo produtivo de massa, elaborando sem parar os seus objetos naturais: arvores, pássaros, pedras, besouros, água, etc. Para nós, esses produtos quase sempre são considerados como matéria-prima.
Estamos sempre transformando os produtos dessa fábrica cósmica, o qual é a natureza, a fim de eliminar as tensões de nossas vidas. Fazemos isso através das funções dos produtos industrias, fornecidos pelo mercado, geralmente conformados sobre a forma de um objeto ou de um serviço.
Essa diferenciação que tem surgido hoje, entre produto e objeto, é muito importante porque sinaliza de forma consciente que os processos produtivos mudaram, onde o objeto muitas vezes é parte fundamental de um todo mais complexo, isto é, de um serviço fornecendo de forma constante e que está sempre conectado.
Aqui é interessante notar, também, que às vezes os produtos naturais são usados em sua forma mais básica, dando origem ao que chamamos de objetos modificados da natureza. Eles são, por exemplo, os rolos de feno e a água transformada em gelo, matérias-primas que no ligar de dar vida a um produto, se tornam, para nós, o próprio produto.
A função da arte dentro do design
Quando falamos sobre design de produtos, surge sempre a questão do artista. Sobre isso, podemos separar dois tipos de produtos:
Os funcionais → Marcados principalmente pela função prática, não tendo nenhum outro significado especial.
Os simbólicos → Que apesar de trazerem uma função prática, são utilizados principalmente como vetores de características culturais, sócias e econômicas.

Nesse exemplo, retirado do livro sobre design industrial de Lobach, fica nítido como a questão artística está implícita no design. Na esquerda vemos um objeto totalmente focado na funcionalidade, enquanto na direita vemos outro, focado no simbolismo. O que separa os dois são seus ornamentos, um pensado apenas para a distinção social, enquanto o outro foi feito para o uso contínuo e diário.
Geralmente as criações artísticas caem na segunda categoria. Esses objetos artísticos formam uma classe especial de produtos, pois são capazes de transmitir informações complexas de forma instantânea e totalizante.
É claro que não é possível excluir as funções de um produto, o que os artistas fazem é organizá-los de forma que as funções estéticas e simbólicas tenham maior valor. Você pode ver mais sobre isso em outro Estudo Acadêmico — As 3 Funções Essenciais do Design de Produto: Prática, Estética e Simbólica.
Seu papel principal é a satisfação das necessidades estéticas, necessárias para a saúde psíquida do ser humano. Vale dizer que o trabalho artístico se assemelha muito ao do artesanato, onde há uma ligação mais pessoal do produtor com o produto, além de que mutias vezes esse trabalho é realizado de forma manual, sem o auxílio do maquinário industrial.
Organização produtiva do mercado para as massas
Como vimos nesse estudo, a configuração dos produtos para uso passou por muitas modificações, desde o trabalho manual ao mecânico das fábricas. No nosso mundo pós-moderno podemos dizer que essa transformação já passou por um ciclo completo.
O advento da robótica, da moldagem do plástico e de máquinas como as impressoras 3D, tem deixado o papel de conformação do designer cada vez mais idêntico ao dos artesãos antigos, isso sem perder a qualidade e precisão dos produtos industriais. Com isso podemos esperar que cada vez mais o designer seja visto como um artista, porém, diferente pelo simples fato de que suas produções não serão feitas para contemplação, estando elas cada vez mais presente no nosso uso diário, seja em casa ou no trabalho.
Enfim, estar consciente dessas modalidades de produção e de como o designer, enquanto ser humano, tem sofrido influência desses fatores históricos é importante, principalmente para que ele enquanto profissional, possa se situar em meio a um cenário que esta cada vez mais complexo e multifacetado.
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